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Aos 54 anos, o chapeador Paulo Irajá Canoff do Nascimento enfrenta os desafios de empreender na pandemia. Na oficina, em Passo Fundo (RS), atende clientes por meio de indicações e de empresas que terceirizam serviços. O empreendedor relata que esse mercado sempre foi competitivo na região devido o número de estabelecimentos que atuam no segmento. Porém, desde 2020 no início do contágio pela covid-19 no Brasil, os impactos econômicos comprometeram financeiramente parte da população mediante o desemprego e a redução salarial. 

            “Quem tem o próprio negócio passa dificuldades constantemente. Manter e conquistar novos clientes era muito complicado antes da pandemia. Agora é um desafio maior porque precisamos lidar com os preços baixos da concorrência. Para não fechar as portas muitos estabelecimentos reduziram o valor agregado aos serviços. Não seguimos nessa linha, pois é arriscado competir com orçamentos abaixo do mercado. Percebemos a desvalorização desse segmento. Por isso, alertamos aos clientes para que prezem pela qualidade e tenham a garantia de que não precisarão refazer o serviço”, destaca Nascimento. 

            Os impasses financeiros são administrados com resiliência pelo empreendedor. Paulinho, assim como é conhecido, transcede a alegria por ter a família gerenciando os negócios ao seu lado. Ele ressalta que o cuidado com as pessoas próximas está à frente de qualquer empecilho. Um dos motivos que o fez valorizar cada momento da vida foi a perda de um dos filhos em 2013.

 “As pessoas, geralmente, se apegam aos bens materiais. Isso nunca aconteceu comigo. Os laços com quem eu amo se fortaleceram após o acidente de moto do Dionatan. Essa fatalidade até hoje traz muita dor. As dificuldades que enfrento na pandemia são incomparáveis. A ferida não tem cura. Essa oficina traz muitas lembranças dele, meu filho também trabalhava ao meu lado”, lamenta o empreendedor. 

            Após o acidente, Nascimento parou o trabalho na oficina. Durante seis meses permaneceu sem contato com outras pessoas. “Tive depressão. Nessa época todas as despesas pessoais e da empresa acumularam. Foi o período mais difícil de superar. Cuidar da saúde emocional foi complicado, muito além de retomar aos negócios com todos os prejuízos financeiros que tive nesse semestre”, relata.

Para pagar todas as dívidas e voltar a sua rotina, o empreendedor buscou recursos em agências de microcrédito. Na Credioeste (Agência em Passo Fundo), o primeiro empréstimo também foi utilizado para comprar ferramentas. “Mesmo com dificuldades sempre tive cuidado para não atrasar as contas. Manter os pagamentos em dia é uma garantia de que conseguiremos permanecer no mercado de trabalho”, afirma.

            O filho, Dieicon Fortes do Nascimento (29 anos), trabalha na oficina. Relata que sente orgulho do pai. “Ele sempre se organiza para não dever. Muitas vezes trabalhou abaixo de chuva para garantir receita. É uma honra para ele manter o nome limpo. Acredita que dessa forma não enfrentará dificuldades com fornecedores e também é um critério que pode favorecê-lo com os clientes, além de facilitar a aprovação de créditos”, esclarece.

            Em média, Nascimento reforma três carros por mês. As peças para cada trabalho são compradas em municípios diferentes. Os pedidos são realizados por telefone. A dificuldade de navegar na internet o impede de comprar em sites. Outro impasse são as redes sociais. Facebook e Instagram, geralmente, utilizados por empresas para divulgar os negócios e aumentar as vendas, não são gerenciados. Com a ajuda de Dieicon, Paulinho responde somente as mensagens recebidas pelo WhatsApp. 

            “Quando terminarmos nossa nova oficina, pretendo monitorar as redes sociais. Também preciso me preparar para futuramente dar continuidade aos negócios. Esse é o meu propósito, pois o tempo me ensinou a valorizar a profissão. Eu não gostava de trabalhar aqui. Fui contratado em outras empresas e não gostei. Passei por muitas dificuldades para reconhecer o trabalho e a dedicação do meu pai. Hoje agradeço pela paciência que teve comigo e as oportunidades que me deu. Devo a ele toda a experiência que tenho”, ressalta Dieicon.

            Os valores que Nascimento repassa aos seus filhos foram ensinados a ele pelo seu pai Antônio Soares do Nascimento. “Ele faleceu há 34 anos e nos deixou a nossa principal riqueza: sabedoria e caráter. Meu pai sempre dizia ‘O homem não precisa ser rico. Conserve o teu nome, ser pobre não é um defeito. Ter dinheiro não significa ser honesto’. Esse é o nosso aprendizado. Vivemos com dificuldade, mas sabemos valorizar o que temos de melhor: nossa família e realizações pessoais. Isso é o que fortalece nosso negócio. Aproveitamos as oportunidades e nos mantemos com o que temos, sempre honrando a nossa origem”, realça o empreendedor.

CREDIOESTE

            A Credioeste é uma organização sem fins lucrativos. Atende empreendedores formais e informais, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento dos pequenos negócios, gerando postos de trabalho, ocupação e renda por meio da concessão de crédito para capital de giro, capital fixo e capital misto.A Credioeste foi fundada em Chapecó (SC) e possui agências em Pinhalzinho (SC), Nonoai (RS) e Passo Fundo (RS).