Os fundos que rendem mais para o banco do que para o investidor

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Exame.com

Com a queda dos juros para 8,25% ao ano, diversos fundos de renda fixa já começam a render mais para o banco que faz sua gestão do que para o investidor.

Isso porque a taxa de administração cobrada nessas carteiras supera metade do rendimento bruto da Selic, ou seja, mais de 4,125% ao ano.

A conta é simples: se os juros estão em 8,25% e o banco cobra 5% ao ano sobre o total investido para administrar o dinheiro, sobram para o investidor 3,25% de remuneração, sujeita ainda à tributação no come-cotas a cada seis meses ou no resgate.

Estudo feito com a ferramenta de fundos da empresa de dados Economática mostra oito carteiras de renda fixa, DI e Curto Prazo com taxa de administração acima de 4,20%, chegando em alguns casos a 5,5% ao ano, ou dois terços da remuneração de 8,25%.

Isso em termos brutos. Se descontado o imposto de renda, de 15% para prazos acima de dois anos, o ganho da Selic de 8,25% cairia para 7% e uma taxa de administração de 5,5% equivaleria a 78% do ganho líquido obtido pelo investidor.

E mais fundos devem passar a render mais para o banco, uma vez que estão previstos novos cortes dos juros que levarão a taxa básica para perto de 7% ao ano, como estima o boletim Focus do Banco Central.

Nesse caso, fundos com taxa de administração de 3,5% já levarão metade do ganho bruto do investidor.

Fundos quase passivos
A taxa de administração nesses fundos têm impacto direto na rentabilidade, uma vez que não há um trabalho de gestão propriamente dito, mas apenas a compra de títulos públicos de menor prazo possível.

Por isso, a rentabilidade das carteiras com mesma taxa de administração é praticamente igual nos vários bancos.

Muitas dessas carteiras são destinadas ao varejo ou a sistemas de aplicação automática, as chamadas “raspa conta”, de clientes que, sem perceber, deixam o dinheiro parado rendendo para o banco.

Um sinal é o grande número de cotistas desses fundos, com um deles atingindo 87 mil clientes.

A taxa de administração é alta, portanto, pela comodidade do serviço de aplicação e resgates automáticos ou para cobrir os custos operacionais com valores de aplicação menores, explicam os bancos.

No caso do Hiperfundo, do Bradesco, um dos maiores fundos do mercado, a explicação é outra: seus 308 mil investidores abrem mão da rentabilidade para concorrer a sorteios de carros.

Menos que a poupança
Apenas como comparação, as cadernetas de poupança, a menor rentabilidade do mercado de renda fixa, pagaram em setembro 0,50% líquidos, equivalentes a um rendimento bruto de 0,64% considerando um imposto de renda para um mês (alíquota de 22,5%).

No ano, as cadernetas pagaram até setembro 5,21% líquidos, o equivalente a 6,51% brutos antes do imposto de 20% para aplicações de seis meses a um ano.

Fundos mais caros perdem depósitos
Uma boa notícia é que esses fundos mais caros estão perdendo depósitos, como mostra a relação entre seu patrimônio em setembro e sua média de 12 meses.

No Santander Inteligente, por exemplo, que cobra 5,5% pela gestão, o patrimônio equivale a 60% da média do ano. Sinal que os investidores estão realmente ficando inteligentes.

Mesmo o Hiperfundo perdeu recursos, com 89% da média em 12 meses. Mas há casos de aumento, com cinco fundos com mais de 100% da média.

Os investidores deveriam então não aplicar nesses fundos? Depende. Se não há outra opção, é melhor um ganho baixo do que nenhum.

Mas sempre é possível organizar as contas para escolher uma aplicação melhor e deixar nessas carteiras apenas o que realmente vai ser usado no dia a dia, ao longo do mês e os menores valores possíveis. Especialmente com a taxa de juros se mantendo em níveis mais baixos daqui por diante.