“Jovens pobre já enxergam o empreendedorismo como uma opção de carreira”

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Pequenas Empresas & Grandes Negócios

Ao contrário do que acontecia décadas atrás, quando pessoas mais pobres empreendiam pela necessidade de sustentar suas famílias, hoje os jovens de classes sociais mais baixas já pensam no empreendedorismo como uma opção de carreira.

A opinião é de Bety Tichauer, diretora-superintendente da Junior Achievement Brasil, entidade que prepara jovens em situação de risco para o mercado de trabalho por meio de capacitações em diversas áreas: empreendedorismo, tecnologia, ética e educação financeira, entre outros assuntos.

Em entrevista exclusiva a Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Bety fala sobre a atuação da Junior Achievement, dos desafios encarados pela ONG e dos novos ideais dos jovens brasileiros. Confira:

Antes de tudo, você poderia falar sobre a sua carreira antes da Junior Achievement?
Eu construí minha carreira no mercado corporativo. Trabalhei por 18 anos na Visa, sendo que passei quatro desses anos no México.

Em 2014, comecei a trabalhar como voluntária na Make a Wish, uma organização que realiza sonhos de crianças com doenças graves.

Esse foi o meu primeiro contato com o terceiro setor. Acabei me encontrando nas ONGs, trabalhando mais pelo propósito do que pelo acúmulo, algo difícil de fazer em uma corporação. Depois de tirar um período sabático por quase todo o ano de 2015, aceitei no ano seguinte um convite para trabalhar na Junior Achievement.

E o que é a Junior Achievement?
É uma ONG sem fins lucrativos que prepara jovens para o mercado de trabalho, seja como empreendedores ou para seguir na carreira como funcionários. Mesmo nesse segundo caso, dizemos que ajudamos os estudantes a serem empreendedores, transformando as suas organizações e suas vidas como um todo.

A organização existe desde 1919 e foi criada nos Estados Unidos. Estamos no Brasil desde 1983. Nesses 35 anos, nossos projetos já impactaram mais de 5 milhões de pessoas. Só no ano passado, 331 mil jovens fizeram alguma capacitação organizada por nós.

Quem custeia todos esses projetos?
A iniciativa privada. As empresas nos ajudam financeiramente e nas capacitações em si, transformando funcionários em professores e também criando projetos conosco.

E quais são os projetos mais importantes da Junior Achievement no Brasil?
O nosso carro-chefe é o Programa Miniempresa. É um curso de 15 semanas que prepara os jovens para abrir uma empresa. Ensinamos toda a parte teórica e abordamos temas como finançasrecursos humanos, gestão e marketing, entre outros, e ajudamos os alunos a transformar tudo isso em prática. É uma capacitação mais voltada para a criação de indústrias. O Programa Miniempresa está nos 118 países em que a Junior Achievement atua.

Temos também um curso voltado para as startups, que fala sobre temas importantes para quem deseja atuar nesse mercado: mostramos como fazer a ideação de uma empresa, transformar a inspiração em um negócio de verdade e buscar investimento. A capacitação se chama JA Startups, existe há um ano e é um grande sucesso.

Temos ainda um curso de três dias chamado Girls For IT, em que ensinamos meninas a programar. Além disso, temos projetos que ensinam educação financeira e ética, entre muitos outros.

Qual é o “público-alvo” da Junior Achievement? Que classes sociais vocês atingem?
A grande maioria dos estudantes impactados por nós são de escolas públicas e de classes sociais mais baixas. Os cursos são dados nas próprias escolas e em espaços como ONGs, por mais que já tenhamos feito projetos na Fundação Casa, por exemplo.

No entanto, pode acontecer de uma escola privada querer a capacitação, pois o que ensinamos não está na base curricular das escolas brasileiras. Quando uma instituição particular quer um curso nosso, ela acaba financiando uma escola pública também.

É possível dizer que a Junior Achievement supre a carência que temos da educação empreendedora nas escolas?
Sem dúvida. O nosso objetivo é suprir algo que já deveria ser ensinado nas escolas, tanto públicas quanto particulares. Quanto antes os jovens aprendem, mais é possível que eles tomem boas decisões na vida.

Vale dizer que ano passado fizemos projetos com o Ministério da Educação em Institutos Federais. Ou seja, já há sinais que o governo percebeu a importância do que ensinamos.

Qual é a relevância da Junior Achievement Brasil em um sentido global?
É uma relevância significativa. Tirando os Estados Unidos, somos os primeiros em número de alunos atendidos. No entanto, ainda há muito no que avançar. No ano passado, atendemos 331 mil jovens. Este é um número muito pequeno quando se leva em conta as necessidades do país.

E quais são os principais desafios para que esse avanço ocorra?
São dois os desafios principais: a falta de recursos financeiros para termos mais projetos e problemas tecnológicos. Falta uma infraestrutura mais desenvolvida para que possamos escalar nosso trabalho mais facilmente.

Por exemplo, as escolas não têm computadores, então temos que imprimir todo o material didático. Se houvesse mais recursos, poderíamos economizar nesse aspecto e usar o dinheiro em outros projetos.

Em outros tempos, as camadas mais baixas da população empreendiam por necessidade. Você percebe que os jovens hoje já falam em empreender por oportunidade?
Sim, há um interesse muito grande no empreendedorismo como uma opção de carreira. Hoje, com o acesso à informação e a novas tecnologias, é mais fácil empreender. E vemos muitos olhos brilharem com essa possibilidade.